quinta-feira, 11 de março de 2010

A espiritualidade e a transformação pessoal


A espiritualidade e a transformação pessoal




Particularmente, entendo “espiritualidade” como a busca de maior intimidade e amizade com Deus. O coração quebrantado, a alma apegada ao Senhor, o encontro em silêncio com a face amorosa de Deus no secreto, a leitura meditativa das Escrituras e o mistério da comunhão com Deus no íntimo são dimensões da espiritualidade cristã que curam as feridas humanas.
“Contemplando, como por espelho, a glória do Senhor, somos transformados de glória em glória, na sua própria imagem, como pelo Senhor, o Espírito.” (2Coríntios 3.18).

Thomas Keating afirma em seu livro
“Mente aberta, coração aberto - a dimensão contemplativa do Evangelho” (São Paulo, Editora Loyola, 2005):
“A contemplação não é um exercício de relaxamento [...] É, acima de tudo, um relacionamento [...] Não é uma técnica [...]
É uma oração sem palavras que se fundamenta no chão da fé, esperança e amor [...]
É o caminho mais seguro e garantido rumo à santidade”.
No entanto, como ressalta Esly Carvalho, “sem saúde emocional, não existe santidade [...]
Não acredito que seja por acaso que a única diferença entre as palavras santidade e sanidade seja a letra “t”, que representa a cruz do Messias”.
(Esly Regina Carvalho, Saúde emocional e vida cristã - Curando as feridas do coração. Revista Ultimato).
De fato, ferimos a nós mesmos e os outros a partir de nossas feridas. Somente o amor internalizado de Deus pode cicatrizá-las, ao suprir nossa necessidade de aceitação incondicional.
O reconhecimento reverente do mistério de Deus, revela nossa condição de pecadores e nossa verdadeira identidade de filhos criados à sua imagem e semelhança.
Nascer de novo significa construir nossa identidade não naquilo que temos ou fazemos, mas naquilo que somos em Cristo.Diante do olhar misericordioso de Deus, podemos reconhecer a verdade sobre nós mesmos: tanto a luz quanto a sombra.
O fato de sermos conhecidos e amados como somos, nos liberta de ter de ser alguém e algo que não somos.” (David Seamands.
“O poder curador da graça”. Ed. Vida).
Encarar a realidade demonstra nossa auto-imagem idealizada ou obscurecida e nossas projeções, que nos levam a acusar o outro do mal que negamos em nós. A releitura de nossa história na perspectiva da graça nos permite entender o caminho e sarar as marcas do passado, transformando-nos de agressores em terapeutas. Paralelamente, somos convidados a escolher a vida e desenvolver o potencial de dons e talentos que Deus nos confiou.
A espiritualidade é autêntica se nos torna pessoas cada vez mais amorosas e voltadas para os outros com humildade, empatia e generosidade.
A espiritualidade cristã diz respeito a esse processo contínuo de transformação do caráter: a santificação, que resulta em serviço e engajamento maduro no mundo em que vivemos.O Pr. Osmar Ludovico nos lembra: “A verdadeira espiritualidade reside na santidade do gesto simples do cotidiano. Em Jesus Cristo não há grandiosidade, extravagância; há a simplicidade do gesto humano, há ternura e firmeza [...]
A verdadeira vida cristã não significa sermos mais espirituais, e sim, mais humanos.”Ficar em silêncio, prestar atenção, estar alerta e presente diante de Deus, saborear a Palavra, tudo isso nos permite discernir a ternura com a qual Deus nos ama.
A experiência da graça nos encoraja a reconhecer nossos medos, esconderijos, nossas fantasias, nossa mentalidade de escravos.É a bondade de Deus que nos conduz ao arrependimento (Romanos 2.4). Ele nos ajuda a enfrentar as incertezas de nosso caráter, nossa instabilidade emocional, nosso narcisismo, nossa busca de reconhecimento e sucesso através de bens e do desencontro.A qualidade da relação conosco e com o próximo depende da qualidade de nosso vínculo com Deus no secreto do coração, e isso só depende de nós, visto que Deus está sempre disposto a nos acolher. Nada pode nos separar de seu amor, a não ser nós mesmos.
Aprendemos que a verdadeira espiritualidade reforça nosso vínculo com Deus. Ele se revela à medida que nos aproximamos com reverência e receptividade, pois “a intimidade do Senhor é para os que o temem” (Salmo 25.14).Através da Palavra, podemos reconstruir nossa identidade em Deus. Somos curados e transformados à sua imagem para sinalizar sua presença no mundo. Viver como cidadão do Reino de Deus é reordenar as prioridades para estar enraizado nele e dar liberdade ao Espírito para que se mova em nós e através de nós.


A Espiritualidade e a Transformação Pessoal




Concluo que, o grande desafio da espiritualidade é viver plenamente nossa humanidade, como afirmou Henri Nouwen “as pessoas que nos amam também nos desapontam, momentos de grande satisfação também revelam necessidades não satisfeitas, estar em casa mostra também nossa falta de um lar”.
Essas tensões despertam-nos à compreensão de que só podemos aceitar, respeitar, ouvir, acolher, consolar o outro se formos capazes de aceitar, respeitar, ouvir, acolher, consolar a nós mesmos.
A prática da espiritualidade torna-nos receptivos ao amor de Deus.
Por conseguinte, somos capacitados a ir ao encontro do outro e experimentar a solidariedade genuína com ele, em suas dores e alegrias.
O outro é uma pessoa igualmente única, parceira e companheira de caminhada.
Não é à toa que Jesus convida a amar o outro “como a si mesmo”.

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